O líder do partido na Câmara, Enio Verri, admite que é um desafio "dar clareza" à população sobre "inoperância" do presidente
GUSTAVO BEZERRA/AGÊNCIA PT
O crescimento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) medido nas últimas pesquisas é um grande desafio para a oposição – na opinião de um de seus representantes, o líder do PT na Câmara, Enio Verri. Em conversa com o Metrópoles, o parlamentar do Paraná disse que o partido fará críticas ao governo sem se opor a uma extensão do auxílio emergencial de R$ 600: “Está salvando vidas. Defendemos R$ 600 até dezembro”, disse ele, que vê nas eleições de novembro o cenário ideal para desidratar Bolsonaro: “É municipal, mas o debate nacional ocorrerá normalmente e nosso desafio é mostrar a inoperância dele”, completou.
Veja os principais trechos da entrevista:
Como o senhor percebe esse aumento da popularidade do presidente, apesar dos mais de 100 mil mortos por coronavírus?
Percebo a necessidade de intensificar a comunicação nas redes sociais, já que as ruas estão limitadas, para a população perceber o quanto o governo Bolsonaro é inoperante no que se refere ao enfrentamento à pandemia e o quanto ele foi inoperante no que se refere à proteção social necessária e também em relação à economia. Ele está ganhando apoio mais por conta da competência do Congresso Nacional do que da dele. Afinal de contas, ele não tomou atitude nenhuma pra melhorar a vida da população, foi tudo construído no Congresso. Mas a população não tem essa clareza.
Bolsonaro colhe os méritos?
Sim, ele está levando o mérito e isso é um desafio que temos. Não é simples, mas as eleições de 15 de novembro serão esse espaço privilegiado. Teremos candidatos a vereadores, prefeitos, prefeitas. Os vários partidos de esquerda fazendo um trabalho conjunto de debater esse governo, apesar das dificuldades de fechar alianças formais.
E o que o PT tem para oferecer como alternativa ao modelo bolsonarista?
A população não vive de passado, a população se alimenta do futuro. Política é futuro, mas nós temos um legado pra mostrar. Temos que mostrar que a gente já fez, mas podemos fazer mais e melhor. O PT lida com um desgaste devido ao tempo que passou no governo, mas o Bolsonaro também terá esse desgaste. A população vai lembrar do que ele fez e principalmente do que não fez quando o país precisou.
A população está sem esperança. Temos que apresentar um projeto que traga de volta essa esperança no futuro. Estamos fechando para debater no Diretório Nacional um grande projeto de reconstrução nacional, com sugestões econômicas, políticas. Um projeto de futuro ouvindo as bases e especialistas, resgatando uma coisa que o PT fez nos anos 80 e 90, mas num novo contexto. Os prefeitos que assumirem em 2021, no caso otimista de ter passado o pior da pandemia, vão estar com as contas em frangalhos, sem opção. Vamos apresentar essa opção.
Como a oposição vai se comportar se Bolsonaro propor a manutenção do auxílio emergencial de R$ 600 mesmo colocando em risco as contas públicas?
Acho que é possível direcionar recursos para manter essa medida que está salvando vidas. Jamais seríamos irresponsáveis a ponto de nos opor a isso por questões eleitorais. O PT tem projetos propondo a manutenção até dezembro deste ano e com o valor de R$ 600.
O senhor é professor de economia. Como vê o momento do liberalismo prometido por Paulo Guedes?
Os verdadeiros liberais defendem uma rede emergencial [em uma crise assim]. Mas os verdadeiros liberais não veem o liberalismo de forma selvagem como o Paulo Guedes. Ele não é respeitado entre os liberais, tanto que há o tempo todo na grande imprensa economistas liberais o criticando. O Paulo Guedes, por ter essa visão insensível e ultraliberal mesmo dentro dessa crise, começou uma briga dentro do governo. O Bolsonaro está sentindo que, se seguir o caminho do Paulo Guedes, vai acontecer como no mundo todo onde se aplica medidas liberais: o povo se afasta do governante.
Bolsonaro está gostando do que ele está vendo nas pesquisas, então ele vai querer que o Estado continue gastando. O Paulo Guedes, não. Então, temos uma crise que eles vão ter que definir. O Guedes disse recentemente: “olha o que aconteceu com a Dilma”. Ele, na verdade, alertou que Bolsonaro precisa fazer o que o mercado quer. Temos que ver o quão influente será o mercado nas decisões políticas no país.
Fonte - Metrópoles
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