Rivalidade entre um padre e um seminarista no Instituto Bíblico de Brasília, na Asa Norte, virou caso de polícia
Por - Mirelle Pinheiro e Carlos Carone
Rafaela Felicciano/Metrópoles
A morte cruel de um cachorro expôs a rivalidade entre um padre e um seminarista no Instituto Bíblico de Brasília, igreja localizada na Asa Norte. Denúncia registrada na 5ª Delegacia de Polícia (área central) detalha que um filhote de cachorro foi intoxicado com medicamentos e asfixiado por um religioso de 29 anos.
O corpo do animal teria sido enterrado no jardim da instituição em 19 de outubro deste ano.
Sob condição de anonimato, o padre, que diz sofrer ameaças, explicou que morava no local há 12 anos e, até recentemente, ocupava cargo de destaque na igreja.
Em setembro deste ano, o clérigo notou que um grupo de seminaristas passou a fazer oposição à gestão dele. “A rivalidade começou a ficar mais evidente em 5 de setembro, quando eu vi dois religiosos colocando, em um saco de nylon, dois cães que eu cuidava. À época, reagi prontamente e mandei retirarem os animais do saco. Alertei que era crime e disse para deixar os cachorrinhos em paz”, lembrou o padre.
Segundo ele, a justificativa da dupla era que os animais estavam matando as galinhas no lote e que seria necessário “dar um jeito” no problema. Após esse episódio, os ânimos se acirraram e um seminarista, de 29 anos, teria chegado a dizer que expulsaria o padre da instituição, “na porrada”.
Além das ameaças, o jovem teria trocado as fechaduras do instituto e se recusado a entregar o cartão corporativo ao padre, que ocupava uma posição hierarquicamente superior.
Cachorro que sobreviveu ao suposto ataque Rafaela Felicciano/Metrópoles
O suposto ato criminoso, sob investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), teria ocorrido durante uma viagem feita pelo padre. O religioso embarcou em 18 de outubro e voltou à capital federal no dia 25 do mesmo mês.
“Assim que abri o portão, os funcionários já me avisaram que tinham mandado matar o cachorro. Fiquei em estado de choque. Descobri que eles pegaram um dos filhotes, deram doses de Zolpidem, insulina, colocaram-no em um saco e o jogaram no lixo. O animal ainda estava vivo. O fato é conhecido por todos que estavam lá”, detalhou o padre.
Um funcionário do instituto, também sob condição de não ser identificado, confessou que ajudou no ato. “O seminarista pediu para pegar os dois cães, mas, como um deles fugiu na hora, só consegui capturar um. Ele era branquinho e o chamávamos de Pererê. Eu levei o cachorrinho para os fundos do lote e vi o momento em que ele foi colocado dentro de um saco e, depois, jogado em uma lata de lixo. Ainda estava vivo. No outro dia, eu o enterrei lá mesmo”, relatou.
O depoimento da testemunha também foi formalizado na delegacia.
Ainda em entrevista ao Metrópoles, o padre revelou que o seminarista que teria executado o animal perguntou a um enfermeiro, membro da instituição, se há alguma forma de matar alguém “lentamente e sem deixar vestígio”. “Temi pela minha vida. Logo em seguida, recebi a informação de que eu fui desligado da entidade. Decidi denunciar os fatos às autoridades como forma de me proteger e fazer justiça”, acrescentou.
Na manhã desta segunda-feira (1º/11), a reportagem esteve na sede do Instituto Bíblico de Brasília. Um dos animais permanecia no local. Um religioso afirmou que segue alimentando o cãozinho, mas ressaltou que busca uma família para adotá-lo.
O seminarista apontado como suposto autor do crime de maus-tratos não foi localizado e não respondeu às mensagens. O instituto informou que não vai se manifestar sobre o caso.
Legislação
Duas novas leis de combate aos maus-tratos a animais passaram a vigorar em outubro do ano passado, após sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB). As normas endurecem as medidas contra autores de violência contra pets no Distrito Federal, nas quais há, inclusive, previsão de multa de até 40 salários mínimos, ou seja, R$ 41,8 mil.
Agora, o autor de violência animal, além de multa, deve arcar com as despesas médico-veterinárias do bicho ferido, mesmo em hipótese de atropelamento. Ainda, o agressor pode ficar de três a cinco anos proibido de ter a tutela de bichos de estimação, além de ter de participar de cursos de capacitação sobre dignidade e proteção aos pets.
Além das sanções previstas nas leis locais, o governo federal sancionou, em 29 de setembro de 2020, nova disposição para aumentar a reclusão de condenados pelo crime contra a integridade física dos pets. A legislação, aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), estabelece pena de dois a cinco anos de prisão para quem praticar ato de abuso ou maus-tratos, ferir ou mutilar cães ou gatos.
Fonte - Metrópoles
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