A Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas, situada em Luziânia, foi fechada pela Vigilância em Saúde de Goiás na terça-feira (2/5)
Imagem cedida ao Metrópoles
A Superintendência de Vigilância em Saúde de Goiás (Suvisa) interditou, na noite de terça-feira (2/5), a Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas, situada na região das Chácaras Marajoara, em Luziânia, no Entorno do DF. A fiscalização ocorreu após o Metrópoles procurar os órgãos durante apuração sobre as situações de maus-tratos e tortura a que eram submetidas as vítimas no estabelecimento clandestino.
Vídeos chocantes gravados no local mostram os pacientes nus, sendo obrigados a entrar na água de madrugada, dormir no chão em meio à sujeira e ficar amarrados em posição semelhante àquela em que escravos eram punidos no Brasil há mais de 130 anos.
Veja abaixo alguns vídeos das humilhações:
Na clínica, dependentes químicos eram submetidos, diariamente, a humilhações e sessões de tortura que já resultaram até em morte.
De acordo com a Suvisa, cerca de 54 residentes estavam internados no estabelecimento no momento em que ocorreu a interdição e autuação do espaço.
Algumas das irregularidades encontradas no local foram falta de documentação para funcionamento da clínica, superlotação, ausência de responsável técnico, condições precárias de higiene e má alimentação dos residentes.
Com a interdição do espaço, a equipe responsável pela reabilitação tem o prazo de três dias para comunicar os familiares dos pacientes sobre a situação deles e realocá-los em outras clínicas de internação.
Antes de abrigar a Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas, o local foi sede da Comunidade Terapêutica Restauração (CTR), que também foi fechada por suspeita de maus-tratos a pacientes. O espaço mudou apenas de nome, mas manteve a rotina adotada.
Segundo a Federação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Fenact), o estabelecimento funcionava de forma clandestina e é administrado por Tiago de Morais Araújo, que se apresenta como enfermeiro.
Para driblar a Justiça, o suposto enfermeiro abriu um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) identificando a empresa como uma comunidade terapêutica, mas, na verdade, oferecia serviço de clínica psiquiátrica com internações compulsórias.
Fome, dopagem e mortes
A rotina dentro da casa era de dor e sofrimento. A lista de supostos crimes cometidos por Tiago e seus funcionários é extensa. Ele é acusado de bater, humilhar e permitir circulação de drogas no local.
Ainda de acordo com relatos de “sobreviventes”, não era permitido manter qualquer tipo de contato com a família, e havia a prática de dopagem com medicamentos sem prescrição médica. Em casos mais extremos, muitos, inclusive, disseram passar fome, pois as refeições eram rigidamente controladas por Tiago e seus monitores.
No caso mais aterrorizante, um interno morreu, em março deste ano, após ser obrigado a ingerir doses cavalares de medicamentos controlados.
Cerca de um mês depois, em 24 de abril, outro paciente apareceu morto na Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas. Carlos Eduardo Rodrigues, 44 anos, não passou sequer 24 horas sob os cuidados de Tiago. O homem foi internado na tarde do dia 24 de abril pela mãe e, durante a noite, faleceu. O óbito dele é investigado pela PCGO, por meio Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Luziânia.
Falta de estrutura e superlotação
O espaço disponibilizado aos internos não era apropriado para a quantidade de pessoas que atendia. A casa, com três quartos, alojava cerca de 54 homens. Por falta de estrutura, alguns dormiam no chão. Além disso, a residência tem apenas um banheiro, sem descarga, o que torna a higiene precária.
O local também não contava com a presença de psiquiatras ou enfermeiros para oferecer tratamento e suporte devidos.
Fonte - Metrópoles
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