'O processo demorou tempo suficiente para eu sair da escola, entrar na faculdade e me graduar', conta Camila Pita, que tinha 14 anos quando o fato aconteceu, em 2012
Por Paulo Assad — Rio de Janeiro
Filha se forma em direito e consegue absolvição da mãe na Justiça da Bahia — Foto: Reprodução
Acusada de matar o namorado em 2012, a baiana Rosália Pita foi absolvida pelo Tribunal do Júri no fim de setembro, no município de Valença (BA). Na sua defesa, estava a filha Camila Pita, formada em Direito há três anos e que passou a se interessar pela profissão após a mãe se ver envolvida como suspeita. Os jurados acataram a tese apresentada pelos advogados. Eles apontaram se tratar de um caso de suicídio, não de um homicídio, como levantado pelo Ministério Público.
O MP acusava a mulher de ser a autora de um homicídio qualificado, supostamente motivado pelo término do relacionamento amoroso com a vítima.
— Conseguimos provar que não foi ela. A balística mostra que o tiro foi de cima para baixo, e ela era muito mais baixa que ele — diz Camila Pita, que tinha 14 anos quando a morte do namorado da mãe abalou a família e deu início ao processo criminal. — O processo demorou tempo suficiente para eu sair da escola, entrar na faculdade e me formar. Foi o meu oitavo júri.
Rosália Pita não chegou a ser presa, e a ausência de pólvora no corpo da mãe de Camila foi outra evidência que pesou a favor da tese da defesa, um sinal de que a mulher não teria sido a autora do disparo. Segundo a advogada, o resultado do júri foi comemorado por moradores de Valença:
— A cidade não para de falar no assunto. O plenário ficou lotado até 1h da manhã, com pessoas acompanhando de pé. Foi muito bonito, emocionante, com palmas e aplausos.
Filha consegue absolvição de Mãe na Justiça da Bahia — Foto: Arquivo Pessoal
A acusação contra a mãe foi um dos motivos que levou Camila Pita a optar por uma carreira no Direito, e, 12 anos depois do início do caso, a jovem se juntou aos advogados que já defendiam Rosália, Fabiano Pimentel, Luiz Augusto Coutinho, Everardo Lima Ramos Júnior, Catharina Fernandez, Thamires Santos e Bernardo Lins. Pita descreve os primeiros anos após a morte do namorado da mãe como "tempos de medo e solidão".
— A minha mãe ficou um tempo sofrendo com depressão, sem sair de casa. Na época, o caso repercutiu muito na cidade. Ela não chegou a ser hostilizada, mas algumas pessoas faziam comentários. — lembra Pita, que explica como a situação a faz enveredar pela advocacia. — Quando tudo aconteceu eu tinha 14 anos e não entendia bem as coisas. Me despertou curiosidade de entender.
Camila Pita comemorou o resultado do júri com uma publicação no Instagram na qual aparece abraçada à mãe. "Não poderia deixar essa foto de fora do meu feed. Nesse abraço moram tantas emoções, tantas pessoas, tanta dedicação, tanto amor (...) Para uma grande injustiça, uma grande defesa. Minha principal missão foi cumprida. Que venham as outras", escreveu. Veja abaixo:
Evidências reunidas pelo Ministério Público serviram de base para o caso ser levado ao Tribunal do Júri pela Justiça da Bahia. Os laudos periciais foram contestados pelos advogados da acusada na etapa final do processo. Para eles, exames que indicaram a ausência de pólvora nas mãos do morto não seriam conclusivos. Uma gravação de um homem baleado no peito foi usada para rebater o argumento do MP de que não seria possível a vítima se manter de pé por 25 segundos após o disparo.