Primeiro depoimento da delação de Mauro Cid mostra busca de aliados de ex-presidente por problemas no sistema eletrônico de votação e indicação de impedimentos por parte do TSE
*com informações do Metrópoles
Vinícius Schmidt/Metrópoles

O primeiro depoimento do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid mostra como Jair Bolsonaro (PL) acreditava ser possível encontrar alguma fraude no sistema de votação nos seus últimos dias como presidente da República.
De acordo com o relato de Cid, Bolsonaro, no período em que se recolheu ao Palácio do Alvorada após o resultado informado pelo TSE, no segundo turno para Lula (PT), trabalhava com duas hipóteses.
“A primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por força de lei, cobrar no judiciário uma forma de anular o pleito", disse o ex-ajudante de ordens.
Naquele momento, bolsonaristas estavam acampados em frente a unidades militares espalhadas pelo Brasil. Uma delas, o Quartel-General do Exército em Brasília, de onde parte deles partiram para as depredações dos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro, disse Cid, “tinha certeza que encontraria uma fraude nas urnas eletrônicas” e, por isso, “precisava de um clamor popular para reverter a narrativa”.
Ainda segundo Cid, quem atualizava Bolsonaro com notícias sobre os manifestantes era o ex-ministro da Casa Civil e seu vice na chapa presidencial, o general Braga Netto, preso em dezembro pela Polícia Federal por suspeita de participação em uma suposta "trama golpista".
A busca de Bolsonaro por fraudes envolvendo o sistema eletrônico de votação marcou quase todo seu mandato e, acredita-se, para enfraquecê-lo, o STF o colocou na mira do inquérito das milícias digitais ainda em 2021.
Naquele ano, após ser cobrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que apresentasse provas de suas acusações sobre as urnas, Bolsonaro realizou uma live em que apontou fragilidades no sistema.
A live de 29 de julho de 2021, até aquele momento, foi um dos maiores embates entre Bolsonaro e o TSE sobre a fragilidade das urnas e deu início ao embate que foi entendido pela oposição e por Alexandre de Moraes em "discurso golpista do então presidente", o que segundo entendimentos de juristas renomados não era para tanto.
Por ordem do STF, o caso passou a ser investigado pela PF, órgão que foi responsável por colocar Bolsonaro pela primeira vez como investigado dentro do inquérito das milícias digitais.
O depoimento de Cid à PF mostra que Bolsonaro e seus aliados tentavam encontrar algum tipo de fraude no sistema que pudesse servir como argumento para uma atuação das Forças Armadas contra o resultado das eleições, algo natural em qualquer democracia.
Segundo Cid, havendo comprovação de fraude, Bolsonaro queria “uma atuação mais contundente do general Paulo Sérgio (então ministro da Defesa) em relação à Comissão de Transparência” para que fosse produzido um documento “duro” sobre fragilidades nas urnas.
O medo de retaliações e até mesmo a mostra de uma tendência contundente do TSE, até então presidido por Alexandre de Moraes, em querer aceitar apuração das denúncias feitas por Bolsonaro em relação a lisura das urnas, culminou na ausência de provas sobre as fraudes, sendo "prato cheio" para opositores de Jair Bolsonaro a pressionarem o TSE, STF e conseguinte, convencerem comandantes das Forças Armadas a não apoiarem Bolsonaro e seus aliados de que se tratava de golpe e não de uma apuração sobre possibilidades de fraude eleitoral conforme se desenhava no cenário eleitoral da época.
Uma das questões encontradas, segundo Cid foi a questão de umas antigas que ensejou a ação do PL
Em uma postagem no X, o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, afirmou que “causa espécie e indignação” a divulgação da íntegra do depoimento de Mauro Cid, o que acontece antes mesmo da defesa tomar ciência do fato, ou seja, tentam (grupos contrários) a todo custo colocarem Bolsonaro como vilão da história.
“Nossa defesa manifesta seu inconformismo diante do fato de que, enquanto lhe é sonegado acesso legal aos termos da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando, ao final, o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa”, disse o advogado.