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'Sonhei que ela me perdoava', diz jovem que matou irmã durante briga

Garota atingiu irmã com tesourada após discussão por causa de ventilador. Arrependida, jovem fala da relação difícil com irmã e diz que não teve intenção.

Jovem diz que só queria assustar a irmã com a tesoura e fazê-la parar de brigar (Foto: Iryá Rodrigues/G1)

Com o rosto abatido, a jovem, de 21 anos, suspeita de matar com uma tesourada no tórax a irmã de 17 anos, recebeu a equipe do G1, nesta quinta-feira (11), na casa onde ocorreu o crime, no bairro Raimundo Melo, em Rio Branco. Desde o último domingo (7), a vida não tem sido fácil para ela. Uma discussão por causa de um ventilador terminou em uma tragédia familiar. Segundo a jovem, as brigas eram constantes e a relação entre elas sempre foi complicada. Ela conta que no dia do crime pegou a tesoura para se defender e fazê-la parar, mas não queria matá-la.

"Me deu socos e chutes na cabeça e agarrou nos meus cabelos. Em nenhum momento eu agredi ela, só fiquei tentando me defender."  diz a suspeita

Em uma das noites em que ficou presa na Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (Deam), a jovem, que foi solta na última quarta-feira (10), afirma ter sonhado com a irmã. "No sonho, minha irmã dizia que me perdoava e pedia perdão. Ela estava vestindo uma calça branca e uma blusa vermelha, eu conseguia ver nitidamente. Minha irmã disse 'eu te perdôo, você me perdoa?', e eu não consegui responder, por mais que eu quisesse falar, não saiu nenhuma palavra. Depois que ela falou isso, subiu para o céu rodeada de anjos e acenando para mim", conta emocionada.

A jovem diz que durante os dois dias que ficou na delegacia, não conversou com os pais. De acordo com ela, quando contou sobre o sonho, assim que saiu da prisão, a mãe entrou em prantos, pois a roupa que ela descreveu que sua irmã aparecia no sonho era exatamente a mesma que ela estava vestida no dia em que foi enterrada.

"Tenho certeza que minha irmã apareceu em sonho para me tranquilizar. Me senti mais aliviada depois disso e sei que tudo que aconteceu com minha família veio para mudar nossas vidas e, principalmente, a minha. Resolvi que vou voltar a estudar e terminar minha faculdade, também não quero mais sair para festas, nem consumir bebidas alcoólicas. Minha vida agora vai ser para a igreja, servindo a Deus", diz.

Dia do crime
A relação conturbada com a irmã acabou terminando mal no domingo. Segundo a jovem, ela e a irmã sempre tiveram uma relação difícil. Certa vez, segundo relata, chegou a registrar um Boletim de Ocorrência denunciando uma agressão contra a irmã, na época em que estava grávida. Sobre o que aconteceu no domingo (7), a jovem conta em detalhes a briga que resultou na morte da irmã. Arrependida, ela classifica o caso como uma 'fatalidade terrível', e que ela nunca imaginou que pudesse acontecer.

Era por volta das 11 horas quando ela acordou no domingo, desligou o ventilador e foi para o banheiro. Voltou para o quarto para pegar algo e, em seguida, se dirigiu ao banheiro novamente. Nesse momento, de acordo com ela, a irmã entrou no banheiro já a agredindo fisicamente. A jovem afirma que a motivação para o início da briga foi o ventilador. A irmã teria ido tirar satisfação já que ela desligou o aparelho.

"Ela já entrou no banheiro me batendo. Me deu socos e chutes na cabeça e agarrou nos meus cabelos. Em nenhum momento eu agredi ela, só fiquei tentando me defender. Meu cunhado e minha outra irmã entraram no banheiro para apartar a briga, até que conseguiram tirar a mão dela do meu cabelo. Aí eu desesperada, corri para a sala e peguei a tesoura, isso porque sempre que nós brigávamos, eu tinha que pegar alguma coisa, como vassoura ou sandália, para ela parar de me bater", conta a jovem.
Jovem mostra que ficou com arranhões nas mãos após a briga com a irmã (Foto: Iryá Rodrigues/G1)

Depois de pegar a tesoura, a jovem conta que correu para o quarto e pulou na cama, e a irmã pegou o fio de uma prancha de cabelo e ficou batendo nas pernas dela. Como a irmã parou de bater, ela achou que a briga tivesse acabado. Foi quando a moça levou um soco no pescoço e caiu na cama. Segundo relatos da suspeita, ela protegeu o rosto com a tesoura na mão virada para a irmã.

"Fui defender meu rosto com a tesoura na mão. Na hora que ela pulou em mim, a tesoura estava apontada para ela e entrou no peito. Depois disso, ela se assustou, suspirou e caiu da cama. Quando ela desmaiou, ainda bateu com a cabeça na ponta da cômoda. Ainda tentei virá-la para cima para estancar o sangue, mas não consegui. Chamei uma vizinha para me ajudar e liguei várias vezes para o Samu, desesperada. Quando o Samu chegou ela já estava morta", relata emocionada.

Jovem fala da relação difícil com a irmã
Questionada sobre a relação com a irmã mais nova, a jovem conta que "era muito difícil, ela era muito agressiva e às vezes nós brigávamos por qualquer motivo. Teve uma vez, eu estava grávida de nove meses, nós discutimos porque ela tinha brigado com meu filho e ela veio para cima de mim. Nesse dia, ela bateu tanto na minha cabeça que eu desmaiei, e dessa vez eu registrei um boletim de ocorrência contra ela", conta.

De acordo com a jovem, a irmã era uma menina tranquila na infância e elas se davam bem. Quando entrou na adolescência, o seu comportamento mudou, ficou mais reservada e não costumava conversar com as outras duas irmãs. A jovem conta que por qualquer motivo a irmã logo se exaltava, ficava violenta e gritava.

Jovem evita sair de casa com medo de agressão
Após a tragédia, a jovem diz que tem medo de sair de casa. Segundo ela, muitas pessoas a chamam de assassina e fazem julgamentos injustos. Ela conta que preferiu desativar sua conta nas redes sociais para evitar ficar lendo os comentários de pessoas que não a conhecem.
Era uma relação muito difícil, minha irmã era agressiva e brigávamos por qualquer coisa"
diz jovem

"Quem me conhece sabe que eu não tive intenção de matar minha irmã. Mas, sei de muitas pessoas que têm jogado palavras pesadas contra mim nas redes sociais. Por isso, tenho evitado sair de casa, com medo de que venham me agredir de alguma forma", diz.

Mudanças na rotina da casa e apoio dos pais
De acordo com a jovem, a rotina da casa e da família sofreu mudanças. Ela diz que sua mãe está afastada do trabalho, porque ainda está muito mal, e o pai, mesmo tendo continuado trabalhando, parece estar mais abalado.

"Estamos todos muito abalados com tudo isso, mas meus pais têm me apoiado desde o início. Eles disseram que acreditam que eu não tive intenção de fazer o que fiz. Mesmo sem poder entrar para falar comigo na delegacia, eles estavam lá todos os dias, e no dia que saí do presídio foram me buscar de braços abertos", conta entre lágrimas.

'Pais também são responsáveis', diz psicóloga
A psicóloga Kátia Freitas avalia que o crime não foi uma fatalidade e diz que era 'previsível'. Kátia ressaltou que a falta de intervenção dos pais resultou na tragédia entre as irmãs. “Infelizmente o que aconteceu foi a falta de intervenção dos pais, ou até mesmo de um posicionamento da irmã que cometeu o crime, que era mais velha”, explica.

Sobre os danos psicológicos que a jovem suspeita de matar a irmã pode ter, a psicóloga diz que são consequências “terríveis” e para a vida toda. Segundo ela, mesmo daqui há 10 anos, os reflexos do crime ainda vão fazer parte da vida da família. Kátia acrescenta que é fundamental o acompanhamento psicológico, tanto da jovem que cometeu o crime, como dos pais.

“O trabalho psicológico não é só da questão emocional por conta da perda de um membro da família, mas também da responsabilização. É importante que os pais entendam que também são responsáveis pelo que aconteceu, porque se eles sabiam que essas brigas eram tão graves entre as irmãs, o comportamento de qualquer pai e mãe seria intervir de alguma forma, já que são as figuras de autoridade em casa”, finaliza.

Entenda o caso
Valéria Paiva, de 17 anos, morreu após ser atingida com uma tesourada no tórax. O incidente ocorreu no domingo (7), no bairro Raimundo Melo, em Rio Branco. De acordo com a responsável pelo homicídio, a irmã de 21 anos, o crime foi motivado por uma discussão após ela ter desligado o ventilador.

Após o ocorrido, a irmã que cometeu o crime permaneceu no local e foi levada pela polícia à Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (Deam). Na terça-feira (9), foi encaminhada para o Presídio Francisco d'Oliveira Conde, mas conseguiu o alvará de soltura

Segundo a jovem, ela vai precisar se apresentar à Justiça uma vez por mês, e deve estar à disposição sempre que for solicitada para novos procedimentos. "A juíza que me concedeu a liberdade foi muito humana e me deu muitos conselhos. Agora só tenho que agradecer por estar em casa e me dedicar à minha família e a Deus", finaliza.



Fonte - G1/Acre

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