Por Celso Alonso - Satélite Notícias
José Ferreira da Silva, o Freio Chico, é irmão do presidente Lula (PT). — Foto: Divulgação/Instituto Lula
BRASÍLIA - A atuação da base governista na CPI mista do INSS expôs, mais uma vez, a tentativa do governo de blindar figuras próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de investigações que envolvem fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas.
Por 19 votos a 11, governistas barraram a convocação de José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi). A entidade é investigada pela Polícia Federal por integrar um esquema de descontos fraudulentos em benefícios previdenciários que já resultou no bloqueio de R$ 390 milhões em bens.
Embora não seja formalmente investigado, Frei Chico se tornou o centro de uma disputa política dentro da comissão. Para a oposição, sua convocação era um passo necessário para esclarecer qual papel de fato exerceu na entidade que recebeu mais de R$ 500 milhões em contribuições de aposentados e pensionistas entre 2020 e 2025. A blindagem do governo, porém, reforçou a percepção de que interesses pessoais se sobrepõem à busca pela verdade.
Proteção em série
A blindagem ao irmão do presidente não foi um caso isolado. Na mesma sessão, a base governista também livrou o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi de ter seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados, apesar de ele ter comandado a pasta durante a primeira fase da operação da PF contra as fraudes.
Outro gesto de proteção ocorreu com a rejeição da quebra de sigilos da publicitária Danielle Fonteles, ligada ao PT e citada como beneficiária de transferências milionárias do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”.
A sucessão de manobras para proteger aliados próximos ao governo deixa em segundo plano a apuração de um esquema que atinge justamente a população mais vulnerável: os aposentados e pensionistas que tiveram descontos ilegais aplicados em seus benefícios.
A conta para os mais frágeis
O discurso de governistas de que não há “materialidade” contra Frei Chico ou falta de provas contra outros aliados do Planalto soa contraditório diante de operações já deflagradas, quebra de sigilos aprovadas contra dirigentes do Sindnapi e indícios de movimentações financeiras vultosas.
Para a oposição, o governo faz da CPI um instrumento de proteção política e não de apuração, minando a credibilidade das investigações e reforçando a percepção de impunidade para os próximos ao poder.
Enquanto a base governa com blindagens, os aposentados, que deveriam ser o centro do debate, permanecem como vítimas esquecidas em um escândalo que já soma centenas de milhões desviados.