Falta de entrosamento do argentino com jogadores ganha evidência com troca de afeto entre rubro-negros e Dorival Junior, atual treinador do São Paulo
O empate do Flamengo com o São Paulo, em 1 a 1, no último domingo trouxe à tona novos fatos que escancaram o distanciamento entre o técnico Jorge Sampaoli e os jogadores. Um afastamento que ganha mais evidência diante dos recentes resultados ruins da equipe.
Arrascaeta volta para o banco: substituição surpreende grupo
Uma das situações mais emblemáticas ocorreu na volta do intervalo. O técnico foi chamado de burro pelos torcedores por ter substituído Arrascaeta por Everton Ribeiro. O uruguaio também demonstrou insatisfação e nem sequer voltou ao banco de reservas para acompanhar o restante da partida. Assim que o jogo terminou, ele deixou o estádio rapidamente, bem antes que a maioria dos companheiros.
A substituição, aliás, deixou companheiros de Arrascaeta atônitos. Com um time pouquíssimo criativo no primeiro tempo, a saída do jogador que é considerado o mais diferenciado pelo grupo gerou reações de incredulidade. Não que Arrasca estivesse desequilibrando, mas justamente pela característica e pelo poder de furar retrancas com jogadas peculiares.
O atacante Cebolinha, que ficou no banco ao longo de toda a partida, também foi embora pouco minutos após o apito final e, a exemplo de Arrascaeta, não encaminhou-se para o vestiário.
No gol de Pedro, mais desencontros. Reservas vibrando de um lado, Sampaoli virando as costas e andando para o outro. Não, Sampaoli não é treinador de celebrar todos os gols efusivamente, mas a frieza com a qual reagiu ao lance chamou atenção.
Jorge Sampaoli durante Flamengo x São Paulo — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Dorival "em casa"
A posição do clube é de que tudo corre bem entre jogadores e técnico. O vice-presidente de futebol, Marcos Braz, e o volante Allan deram entrevista ao fim do jogo contra o São Paulo e negaram a existência de um racha na relação. Entretanto, pelo que se viu no gramado, também não há uma conexão aparente. O que ficou evidenciado pela postura oposta demonstrada pelos jogadores junto ao técnico adversário.
Gabigol abraça Dorival em Flamengo x São Paulo — Foto: Fred Gomes
Dorival Junior, que comandou o Flamengo nas conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil de 2022, recebeu o carinhos dos atletas rubro-negros. Antes e depois da partida, ele teve uma fila de abraços e trocou conversas ao pé do ouvido com os jogadores.
Pedro abraça Dorival Junior após Flamengo x São Paulo, pelo Brasileirão — Foto: André Durão/ge
Pedro foi um dos mais afetuosos junto ao atual treinador do São Paulo. O jogador, que foi titular absoluto, artilheiro do time e jogador de Copa do Mundo com Dorival, perdeu muito espaço com o argentino. Em nota publicada após sofrer uma agressão do Pablo Fernandéz, ex-preparador da comissão de Sampaoli, o atacante mostrou insatisfação com o pouco tempo de jogo e afirmou sofrer covardia psicológica.
Após o jogo, em entrevista coletiva, Dorival Júnior foi perguntado sobre o "feijão com arroz" que fez do Flamengo campeão da Copa do Brasil e da Libertadores. Ao responder, mostrou-se grato pelo que viveu no ano passado, tratou a torcida rubro-negra como "fantástica" e entrou até no mérito da formação em que utilizava Pedro e Gabigol juntos, situação que tornou-se inviável com Sampaoli.
- Para mim, foi uma satisfação voltar a um clube como Flamengo pela terceira vez e ajudar na reestruturação de uma equipe que não vivia bom momento. Nós ajudamos para a apaziguar a situação e mostramos um caminho que ninguém esperava. Muitos que passaram diziam que seria muito difícil da forma como jogamos e principalmente com dois atacantes como Pedro e Gabriel juntos. E eu dizia que era totalmente viável. E não foi pela lesão do Bruno Henrique.
- Vim com isso na cabeça. Arriscaria, sim, mas eu tinha uma condição em que eu poderia organizar segurando um dos laterais como terceiro homem e liberando homens de meio para criarem. Se aquilo é feijão com arroz, continuo acreditando que esse feijão com arroz é diferente. Talvez um dia eles conheçam lá fora o que é fazer um feijão, que nós só temos talvez no nosso país. É para aprender valorizar que um feijão com arroz bem feito dá saudável e é muito saudável.
Dorival ainda desejou dias melhores para o ex-clube e mostrou-se otimista em um outro processo de reconstrução, agora realizado no São Paulo.
- Com relação aos demais, temos que respeitar. Cada um tem uma forma de atuar, uns demandam mais de tempo e outros de menos. Acho que tudo é acreditar nos profissionais para que o caminho seja novamente de vitórias e conquistas. Essa equipe merece e essa torcida fantástica. Só tenho a agradecer os momentos que aqui passei. Hoje estou no São Paulo, graças a Deus fui muito bem recebido e estou muito satisfeito com o que vem acontecendo.
Sampaoli evita tema "relacionamento"
Dentro das quatro linhas a sintonia também não é ideal. Em entrevista coletiva ao fim da partida, o técnico admitiu que ainda o Flamengo ainda joga de forma diferente da que ele acha ideal, também defendeu que cabe aos jogadores se adaptarem à sua maneira de trabalhar. Por outro lado, disse que está se acostumando ao estilo dos jogadores.
Perguntado por diversas vezes se não concorda que o episódio em que Pablo Fernández desferiu um soco em Pedro fez ruir o ambiente entre ele e os jogadores, Sampaoli não respondeu.
Parte da entrevista deste domingo contrasta com o discurso utilizado em participação no programa "Bem, Amigos" do Sportv, em 2022. Na ocasião ele afirmou que "quando treinador pensa que o jogador tem que se adaptar ao seu estilo e não ao contrário, o fracasso está assegurado", ao se referir à passagem conturbada do técnico português Paulo Sousa pelo Flamengo.
Eliminado da Libertadores e cada vez mais longe do Botafogo, líder do Brasileirão, o Flamengo tem na Copa do Brasil a chance mais concreta de conseguir um título de expressão em 2023. Para isso, vai precisar superar os desencontros pelo menos na próxima quarta-feira, quando enfrentará o Grêmio em busca de uma vaga na decisão do torneio.
Fonte - Globo Esporte