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Lembra do Oeste? Clube fica sem divisão, perde estádio para jogar e pode ser despejado de Barueri

Time centenário abandonou Itápolis por projeto de nacionalização na Grande São Paulo, mas perdeu apoio político em meio a rebaixamentos e pode ter de mudar de cidade mais uma vez

Por Emilio Botta — São Paulo

O Oeste Futebol Clube corre o risco de ser considerado um time "órfão" a partir de 1º de setembro. Instalado em Barueri desde 2017, o Rubrão tem até o dia 30 de agosto para desocupar as instalações do CT da Vila Porto, local que se tornou sua sede há pouco mais de oito anos.

A notificação extrajudicial existe em virtude do fim da cessão da estrutura pela prefeitura de Barueri, que apoiava e era uma espécie de mantenedora desde que o clube deixou a cidade de Itápolis, onde foi fundado em 1921, alegando falta de apoio da administração pública.

Oeste pode não atuar mais em Barueri após oito anos da mudança e Itápolis para a nova cidade — Foto: Guilherme Drovas/Oeste Barueri

Segundo apuração do ge, a tendência é de que a direção do Oeste tente a extensão do prazo para desocupar o imóvel, que será desativado para abrigar um hospital veterinário ou outro equipamento ligado à área da saúde.

Procurado pela reportagem, o Oeste diz desconhecer a ordem de desocupação do centro de treinamento mesmo com a publicação do documento na edição do dia 12 de julho de 2025 do Jornal Oficial de Barueri (veja abaixo).

Caso o clube não saia, a prefeitura municipal deve entrar na Justiça para a retomada da área.

Portaria da prefeitura de Barueri que pede desocupação de CT cedido ao Oeste — Foto: Reprodução

Neste momento, o Oeste não tem a intenção de trocar de sede e deixar Barueri, mesmo com o fim do apoio da administração pública e da cessão gratuita do estádio e do CT, onde também aloja sua estrutura do futebol profissional e de base. No entanto, as cidades de Osasco e Santana de Parnaíba são prováveis destinos em caso de uma mudança de sede.

Oeste não joga mais em Barueri

O Oeste não manda seus jogos na Arena Barueri desde 22 de fevereiro de 2025, quando venceu o Linense por 1 a 0 pela 12ª rodada da Série A2 do Campeonato Paulista diante de apenas 184 torcedores. Inicialmente, a saída do clube do estádio se deu pela manutenção do gramado – obra que foi finalizada poucas semanas depois.

Em atividade na Copa Paulista, o Rubrão tem usado o estádio José Liberatti, em Osasco. Antes disso, no último jogo da sua participação pela segunda divisão estadual, o Oeste atuou em Santana de Parnaíba contra a Portuguesa Santista para um público de 276 pagantes.

Oeste em treino do CT da Vila Porto, em Barueri — Foto: Reprodução/Instagram

A saída definitiva do Oeste da Arena Barueri passa por dois motivos centrais: a mudança de prefeito da cidade – Beto Pitteri (Republicanos) sucedeu Rubens Furlan (PSB) – e a concessão da administração do estádio para a Crefipar Participações e Empreendimentos S.A, empresa de Leila Pereira, atual presidente do Palmeiras.

No antigo acordo, o Oeste utilizava as instalações da Arena Barueri sem custos como contrapartida por adotar Barueri em seu nome e na camisa em um projeto de divulgação esportiva idealizada pelo antigo prefeito da cidade. Depois da concessão do estádio, no entanto, isso mudou.

Oeste não atua na Arena Barueri desde 22 de fevereiro — Foto: Guilherme Drovas/Oeste Barueri

A empresa que administra a arena chegou a tentar um acordo para que o Oeste seguisse mandando os seus jogos no estádio, mas sob a condição de arcar com os custos operacionais das partidas. O valor foi considerado alto pelo clube.

Na última partida que fez na Arena Barueri, segundo a súmula, o Oeste teve prejuízo de R$ 18 mil entre receitas e despesas. O custo operacional do estádio foi de pouco mais de R$ 20 mil.

Atualmente, a Arena Barueri abriga jogos dos times de base e feminino do Palmeiras, além de receber partidas pontuais do time profissional quando o Allianz Parque está reservado para shows e eventos.

Oeste atuando em Santana de Parnaíba na Série A2 do Campeonato Paulista — Foto: Agência Briosa

Ao vencer a licitação para administrar a Arena Barueri, a empresa de Leila Pereira se comprometeu a investir cerca de R$ 500 milhões durante os 35 anos de gestão.

As primeiras ações foram a troca do gramado natural pelo sintético, a mudança da iluminação e a reforma dos vestiários e camarotes, além da modernização de outros setores, como sala de imprensa e estacionamento.

A solução encontrada pelo Oeste foi bater na porta da cidade de Osasco. O uso do estádio José Liberatti, porém, tem causado desconforto. O clube não paga nada para atuar no local, enquanto o outro time da cidade, o Osasco Audax, ex-parceiro do Oeste, é responsável pela manutenção do estádio, que na última partida do Rubrão recebeu apenas 104 pagantes e teve prejuízo operacional de R$ 9,4 mil.

Oeste com Barueri nas costas da camisa utilizada pelo clube — Foto: Alex Caús/Oeste FC

Agora atuando em Osasco, Oeste usa uniforme com as cores da nova cidade e sem Barueri nas costas — Foto: Reprodução/Instagram

Em contato com o ge, pessoas que trabalham na administração municipal de Osasco negam qualquer aproximação ou intenção de ter o Oeste na cidade. Desde que passou a atuar lá, o clube tirou o nome de Barueri da camisa e passou a jogar com o uniforme com as cores branca, verde e vermelha, coincidentemente as mesmas da bandeira de Osasco.

Outros dois fatores tornam uma mudança mais difícil de acontecer neste momento. A Federação Paulista de Futebol permite apenas dois times registrados em uma mesma cidade e estádio. Neste caso, Grêmio Osasco e Osasco Audax compartilham as instalações do José Liberatti.

Além disso, em caso de mudança, o Oeste teria de pagar a taxa de transferência de cidade – atualmente no valor de R$ 800 mil.

Camisa do Oeste deixou o tradicional vermelho e preto para as cores da cidade de Osasco: verde e vermelho — Foto: Reprodução/Instagram

Troca polêmica de cidade

O Oeste mudou de casa após 96 anos de história. Fundado em 1921, o Rubrão jogou até 2016 na cidade de Itápolis, interior de São Paulo, quando se mudou para Barueri. Com a alegação de não ter um estádio capaz de receber os jogos da equipe no Paulistão e Série B, o clube encontrou na Grande São Paulo a estrutura e a logística consideradas ideais para ajudar no crescimento da equipe no cenário nacional.


Oeste completou 100 anos em 2021 longe da cidade onde foi fundado

Campeão da Série C do Brasileiro em 2012, o Oeste disputou a Série B por oito anos consecutivos, entre 2013 e 2020, quando foi rebaixado também no Campeonato Paulista. Desde 2023, não tem divisão nacional, e atualmente conta no calendário apenas com a Série A2 estadual e a Copa Paulista, torneio no segundo semestre que dá vaga na Copa do Brasil e na Série D.

Desde a saída do Oeste, o estádio dos Amaros, em Itápolis, recebe apenas pequenos reparos para a realização de jogos do campeonato amador da cidade. Sem perspectiva de retorno do clube, o local é subutilizado.

Oeste teve o estádio dos Amaros, em Itápolis, como casa até 2016 — Foto: Emilio Botta

Com a saída do time, a torcida organizada que acompanhava os jogos no Amaros acabou. E quem frequentemente estava nas arquibancadas dos jogos do Oeste em Itápolis passou a não torcer mais pelo time, que sofreu com diversos protestos ao longo dos últimos anos dos torcedores que foram abandonados em Itápolis.

– Saímos da cidade porque CBF e a Federação Paulista interditaram o nosso estádio. Fomos para Barueri porque temos uma arena e um CT de seleção. Desde então, Itápolis não fez nada. O Oeste tem uma história em Itápolis, voltaria se tivesse condições. A cidade merece tudo o que conquistamos – explicou ao ge Ernesto Garcia, presidente do Oeste em 2019 e um dos atuais dirigentes do clube.

Torcida do Oeste protesta contra jogos fora de Itápolis — Foto: Reprodução / PFC

O prefeito de Itápolis na época da mudança, Edmir Gonçalves (PTC), afirmou que a prioridade do município era atender outras demandas da população e que a grave crise financeira impedia o investimento em melhorias no estádio dos Amaros.

– Pegamos uma cidade que teve cinco prefeitos em dois anos, com muitas dívidas e com um trauma muito grande. Não houve má vontade, não havia e não há possibilidade de investirmos R$ 4 milhões para deixar o estádio apto para receber jogos. É bacana ter o Oeste? Claro, o time levou o nome da cidade para o Brasil todo, mas como prefeito não posso deixar de atender a saúde, por exemplo, para gastar com o estádio.

– Disse uma vez para o Ernesto (presidente do Oeste) que poderia fazer uma arena de Copa do Mundo aqui, que não daria renda. A cidade não comporta um time dessa magnitude. Não existe como viabilizar um time numa cidade pequena – disse o prefeito da época, em 2019, ao ge.

Nas redes sociais, Oeste segue usando Barueri em seu nome oficial — Foto: Reprodução/Instagram

De quase venda à recuperação judicial

Em 2019, o Oeste quase teve um novo dono e uma nova cidade. Em busca de um clube de São Paulo com vaga na elite estadual e na Série B do Campeonato Brasileiro, a Red Bull negociou a compra do Rubrão.

A oferta na época girava em torno de R$ 45 milhões e só não foi finalizada pela intenção da empresa de energéticos de levar o time para Jundiaí. No fim, a Red Bull acabou adquirindo o Bragantino. O Oeste foi rebaixado duas vezes no ano seguinte.

O Rubrão pediu recuperação judicial neste ano e trabalha para elaborar um plano de pagamento das dívidas que giram em torno de R$ 3 milhões, entre ações cíveis e trabalhistas.

Em 28 de maio, o Oeste obteve deferimento do pedido de Recuperação Judicial (RJ). Com isso, passou a ter 180 dias de suspensão dos bloqueios em suas contas para que consiga elaborar um plano de pagamento quitação de pendências junto aos seus credores.

A linha do tempo da derrocada do Oeste:

  • Queda da Série B para a C em 2020
  • Queda no Paulistão em 2020
  • Queda da Série C para a D em 2021
  • Eliminado na 2ª fase da Série D em 2022
  • Sem divisão nacional desde 2023
Oeste disputou a Série B do Brasileiro pela última vez em 2020; desde então, clube amargou seguidos rebaixamentos — Foto: Bruno Haddad

A intenção do Oeste é futuramente tornar-se uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Fato é que depois de mais de 104 anos de história, o clube pode acabar sem um lugar para chamar de seu. Afinal, o Oeste que era de Itápolis, passou por Osasco e se fixou em Barueri, agora é de onde? A resposta apenas o tempo dirá.

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