No telefonema Lula tenta aproximação, mas mostra contradições na política externa do Planalto
Por Celso Alonso - Agência Satélite
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BRASIL - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve, nesta segunda-feira (6), uma conversa de aproximadamente 30 minutos com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma tentativa de reaproximação diplomática e comercial entre os dois países.
Durante o diálogo, Lula solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos brasileiros e das restrições aplicadas contra autoridades nacionais nos últimos meses. O petista também reiterou o convite para que Trump participe da COP30, conferência climática que será realizada em Belém (PA) em 2026.
A iniciativa ocorre em um momento de pressão econômica interna e de queda no ritmo das exportações brasileiras para os Estados Unidos, cenário agravado pelas recentes medidas protecionistas de Washington. Ao pedir o fim do chamado “tarifaço”, Lula tenta reverter perdas na balança comercial, mas enfrenta dificuldades políticas e técnicas para obter concessões imediatas.
Nos bastidores, diplomatas avaliam que o pedido do governo brasileiro soou mais como apelo do que como proposta concreta, já que não houve contrapartidas objetivas apresentadas por Brasília. Apesar do tom amistoso, não houve sinalização de que Trump esteja disposto a recuar das medidas que afetam diretamente setores como o agronegócio e a indústria metalúrgica.
De acordo com a assessoria do Planalto, o diálogo foi “cordial” e incluiu trocas de contatos diretos, lembranças sobre a “boa química” entre ambos e menções à reunião que tiveram em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU.
Lula destacou que o Brasil é um dos poucos países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit comercial, mas a argumentação não foi suficiente para alterar o quadro de restrições vigente.
Críticos da política externa brasileira apontam que o telefonema, embora simbólico, reforça uma postura mais reativa do governo, que busca suavizar tensões após uma série de divergências ideológicas com Washington e outros parceiros ocidentais.
Como desdobramento da conversa, Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar continuidade às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. A proposta é aprofundar os temas comerciais e avaliar alternativas para flexibilizar barreiras alfandegárias.
Do lado brasileiro, acompanharam o telefonema o vice-presidente Alckmin, os ministros Mauro Vieira, Fernando Haddad, Sidônio Palmeira (Comunicação) e o assessor especial Celso Amorim.
Analistas avaliam que a postura de Lula evidencia inconsistência na estratégia internacional do governo, marcada por gestos políticos sem resultados práticos imediatos. O convite para Trump participar da COP30, embora diplomático, contrasta com o tom crítico que o presidente brasileiro costuma adotar em relação à política ambiental dos Estados Unidos.
Especialistas também destacam que, ao insistir em uma aproximação com o republicano, Lula busca melhorar a imagem do Brasil no cenário global, mas enfrenta o desafio de equilibrar discurso e ação. A conversa, segundo fontes da diplomacia, foi vista mais como tentativa de reposicionamento político do que como avanço efetivo nas relações bilaterais.
A ligação entre Lula e Trump revela um esforço de ajuste pragmático na política externa brasileira, mas também expõe contradições entre o discurso de soberania nacional e a necessidade de aliviar tensões comerciais com Washington. O gesto diplomático, embora importante, reforça a percepção de que o governo tem agido de forma reativa e fragmentada em temas estratégicos, alternando retórica ideológica e pragmatismo econômico conforme o contexto.