Petista reclamou da escolha de Guilherme Derrite como relator da Lei Antifacção, proposta pelo próprio governo
Uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, provocou forte reação política em Brasília e levantou críticas sobre interferência do Executivo nos assuntos internos do Legislativo.
O telefonema ocorreu no sábado (8) e teve como motivo a insatisfação de Lula com a escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto da Lei Antifacção, proposta enviada pelo próprio governo federal ao Congresso. O projeto endurece medidas de combate ao crime organizado.
Irritação com escolha de aliado de Tarcísio
Segundo interlocutores do Planalto, o presidente teria se irritado com o fato de Derrite ser aliado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e nome em ascensão na direita para as eleições de 2026. Derrite é secretário de Segurança Pública de São Paulo, mas se licenciou do cargo para assumir a relatoria da proposta.
Nos bastidores, a atitude de Lula foi classificada como ingerência indevida, já que a indicação de relatores é uma prerrogativa exclusiva do presidente da Câmara e deve seguir critérios técnicos e regimentais, sem interferência do Palácio do Planalto.
Oposição acusa Lula de “impor sua vontade”
A oposição reagiu com dureza. O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder do grupo oposicionista na Câmara, afirmou ao Diário do Poder que a postura do presidente representa uma afronta à independência dos Poderes:
“É um caso gravíssimo de interferência indevida. O presidente tentou impor sua vontade à Câmara, o que fere o equilíbrio institucional e desrespeita o voto popular. Infelizmente, isso virou rotina no Brasil — quando não é o Executivo pressionando, é o Judiciário revertendo derrotas do governo no Legislativo.”
O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) também criticou o petista e defendeu a escolha de Motta:
“Lula não tem que se meter no Legislativo. Ele precisa cuidar do Executivo — o que, aliás, tem feito muito mal. A escolha do presidente Hugo Motta por Derrite foi acertada, demonstrando respeito à independência do Parlamento e à experiência de quem entende de segurança pública.”
Motta tenta evitar atrito com o Planalto
Apesar da pressão política, Hugo Motta optou por não reagir publicamente. De acordo com informações do jornal O Globo, ele respondeu a Lula apenas dizendo que a relatoria seria conduzida “de forma técnica, sem viés político”.
Mesmo assim, a falta de firmeza do presidente da Câmara foi criticada por parlamentares da oposição, que passaram a chamá-lo de “acovardado”. O episódio intensificou o clima de desconfiança entre os Poderes e reforçou a percepção de que o Planalto tenta manter influência direta sobre as pautas do Congresso.
