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Domingos Arruda é sepultado em clima de grande comoção

Muita comoção na despedida de Domingo Arruda, que faleceu na tarde do último domingo (14), vítima de câncer

Foto - Agência Satélite

Por Celso Alonso

O sepultamento do líder comunitário Domingos Arruda de Sá, ocorrido nesta terça-feira (16), foi marcado por forte comoção e homenagens emocionadas de familiares, amigos, lideranças comunitárias e pioneiros de Santa Maria, além de representantes da política. Domingos faleceu na tarde do último domingo (14), aos 70 anos, vítima de mieloma múltiplo, um tipo de câncer do sangue que se origina nos plasmócitos, células da medula óssea responsáveis pela produção de anticorpos. A cerimônia de despedida aconteceu no Cemitério Parque Metropolitano, em Valparaíso de Goiás.

Reconhecido como uma das principais lideranças da história de Santa Maria, Domingos Arruda reuniu no velório nomes que ajudaram a construir a cidade ao longo das últimas décadas. Entre as presenças que mais chamaram a atenção esteve a do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que, visivelmente emocionado, destacou a amizade e a admiração que nutria pelo líder comunitário. “O Domingos foi uma pessoa que sempre admirei, sempre prestativo, amigo e fiel. A sua partida me deixou profundamente comovido, pois eu o tinha como um irmão”, afirmou o ex-governador.

Com o mesmo sobrenome, José Roberto e Domingos carregavam “Arruda” como sobrenome e era comum o líder ser intitulado como familiar do ex-governador, chegando a ser carinhosamente chamado de “primo”. O próprio ex-governador relembrou essa convivência afetuosa. “Muita gente me perguntava qual era o grau de proximidade entre nós, e eu sempre dizia que ele era uma pessoa muito querida… um primo.”

José Roberto Arruda também relatou uma das últimas visitas feitas ao amigo no hospital. “Percebi que ele estava se despedindo. Muito debilitado, falava do desejo de continuar lutando, mas demonstrava que já não tinha forças. Dizia que queria muito ficar, mas que estava difícil”, contou, com a voz embargada.

Durante toda a cerimônia, as filhas e a viúva Ana Cláudia permaneceram ao lado do caixão. Ana Claudia, por sua vez, sempre recordando os últimos momentos vividos com o esposo. Segundo ela, Domingos vinha apresentando piora progressiva nos últimos meses, embora mantivesse o entusiasmo e a esperança. “Ele sempre tentava driblar a situação e continuar vivendo, muitas dessas, até mesmo escondendo dores para que eu não ficasse preocupada. Mas piorou de repente, os rins pararam de funcionar e ele precisou ser internado às pressas”, relatou.

Ana Cláudia também descreveu os momentos finais. “Ele se alimentou, depois dei um suplemento alimentar. Ele reclamou, disse que não tinha gostado e, logo em seguida, convulsionou, o que levou à primeira parada cardíaca. Os médicos conseguiram reanimá-lo, mas pouco depois, às 17h19, ele faleceu.”

Últimos pedidos

Ana Cláudia e Domingos Arruda - Foto Instagram

Segundo a viúva, Domingos deixou claros alguns pedidos nos momentos finais. Entre eles, o desejo de não ser entubado e de não passar por sessões de hemodiálise. “Ele disse ao médico que não queria ser entubado nem fazer hemodiálise. Para ele, seria muito doloroso partir dessa forma”, revelou Ana Cláudia.

De acordo com Ana Cláudia, nos últimos dias Domingos passou a desfrutar a vida da forma que desejava, realizando pequenos desejos, especialmente ligados à alimentação. “Ele decidiu viver. Eu o ajudava quando queria comer algo que antes era rigorosamente controlado. Sempre me perguntava se podia, e quando eu dizia que sim, a felicidade ficava estampada no rosto dele. Era como se estivesse saboreando a vida. Foram assim os seus últimos momentos”, relatou.

Amigos próximos também prestaram homenagens durante o sepultamento. Samara Alves, amiga de longa data, destacou o espírito solidário e combativo de Domingos Arruda. “Era uma pessoa querida por todos, sempre prestativo. Mesmo debilitado, continuava cobrando melhorias para a cidade, especialmente na área da saúde, que sempre foi sua principal bandeira”, afirmou.

Domingos Arruda enfrentava o câncer há mais de 20 anos, período em que passou por dois transplantes e por uma rotina intensa de tratamentos e internações. Ainda assim, mantinha o otimismo e se tornava referência para outros pacientes. Amigos lembram que, durante tratamento realizado em São Paulo, ele se destacava pela alegria e pela capacidade de transmitir esperança. “Ele era o brilho entre os pacientes, sempre animando quem estava ao seu lado”, relatou um dos presentes.

Mesmo diante do agravamento da doença, Domingos demonstrava serenidade e lucidez. Em conversas recentes, expressava preocupação maior com o futuro da esposa, que o acompanhou durante toda a jornada contra o câncer. Há cerca de quinze dias, em encontro com o jornalista Celso Alonso, revelou estar organizando a própria vida. “Estou vendendo a casa e vou comprar um apartamento no Total Ville para deixar para a Cláudia. O restante do dinheiro vou dividir com minhas filhas e cuidar da saúde, curtindo o tempo de vida que ainda tenho”, disse à época.

Uma das últimas fotos de Domingos Arruda - Foto Instagram

Comprometido até os últimos dias com a ideia de inspirar outras pessoas, Domingos havia combinado a gravação de uma reportagem contando sua trajetória em Santa Maria e a luta contra o câncer, com o objetivo de levar uma mensagem de superação. O projeto, no entanto, não chegou a ser concretizado.

A morte de Domingos Arruda representa uma perda irreparável para Santa Maria. Mais do que um líder comunitário, ele foi um símbolo de compromisso com o bem-estar coletivo, reconhecido pela postura conciliadora, pelo espírito público e pela dedicação incansável às causas da cidade. Sua trajetória deixa um legado de luta, solidariedade e amor à comunidade.

Mais do que uma liderança comunitária, Domingos Arruda foi a voz firme daqueles que não eram ouvidos, especialmente dos pacientes que buscavam na saúde pública um alento para suas vidas e, muitas vezes, se deparavam com a falta de compromisso do poder público. Sua trajetória foi marcada pela luta incansável por dignidade, justiça e melhorias para Santa Maria, sempre pautada pela humildade, coragem e por um raro senso de humanidade. Ao longo da vida, colocou o interesse coletivo acima de qualquer projeto pessoal, transformando o servir e o cuidar em missão. Sua ausência deixa um vazio profundo, mas também a certeza de que seu legado permanece vivo em cada luta travada, em cada família amparada e em cada esperança que ajudou a reacender.

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