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A ÉTICA E A CRISE DE VALORES

Político atual me leva a (re)lembrar um artigo de minha autoria publicado no Jornal do Tocantins do dia 18 de agosto de 2013.



O mundo vive uma profunda transformação. Trata-se de uma virada do pensamento humano. Um pensamento que instiga a si mesmo. Um pensamento que busca na sua origem os primeiros valores da humanidade. Mas esse ambiente de transformação não é pacífico, pois a quebra de paradigmas sempre foi e será um problema das sociedades. Quebrar o paradigma é sempre romper os laços do presente com o passado para reconstruir o caminho para o futuro. É por isso que muitos autores anunciam que vivemos um tempo de crise: a crise dos valores. E se vivemos uma transformação do pensamento humano, que se traduz em certa medida numa crise de paradigmas, nossa missão é conter, negar e contraditar o que nos desumaniza. Em outras palavras, nossa missão é preservar o mínimo de dignidade humana a cada ser humano habitante do planeta. É neste contexto que se insere o discurso ético; a ética como ciência dos comportamentos morais. 
Como nos afirma Leonardo Boff, a ética pode ser entendida como o conjunto ordenado de princípios, valores e de motivações últimas das práticas humanas, pessoais, e sociais, o modo de ser de uma pessoa ou de uma comunidade. A ética é da ordem, da prática e não da teoria. Ou seja, não basta afirmar ser ético ou honesto, comprometido com as boas causas. É preciso também colocar em prática a ética que nos funda. E assim sendo, a ética só pode ser encontrada na nossa humanidade, pois ser ético é se projetar na pessoa do outro para compreender o que nos diferencia e nos afasta uns dos outros. A ética tem muito mais a ver com o amor e a fraternidade, razão porque só se consegue (re)construir uma discurso minimamente ético colocando em prática um agir preocupado com o outro, que leva em consideração a humanidade do outro. Essa é a conduta que antes de se ser moral é essencialmente ética. Ainda segundo Leonardo Boff, a ética para ganhar um “mínimo de consenso deve brotar da base última da existência humana.” Não é a razão que acolhe a ética, mas a paixão. Na casa da razão a ética se torna instrumento de dominação, objeto que serve aos interesses particulares e que visa unicamente sua própria satisfação. É na morada da paixão que a ética verdadeiramente se mostra liberta e capaz de influir no agir das pessoas. Influir de modo livre, sem opressão ou tirania. Aquilo que nos funda é aquilo que nos comove; que nos dá o sentido da vida através do outro, da pessoa do próximo que clama por amor, fraternidade, respeito, consideração, etc. Uma ética que não considera o outro é uma ética sem paixão, sem amor, sem fraternidade, em resumo, nada tem de ético. Uma conduta moral antes de mais é uma conduta fundada na ética, num consenso mínimo de valores, num discurso ético que legitima o agir ou mesmo a omissão. A ética sequestrada pela razão perde o coração e a capacidade de sentir o outro em profundidade. Para Leonardo Boff, a pessoa do próximo, o seu semelhante tem que ser uma proposta que pede uma “resposta” com “res-ponsa-bilidade”. A negação ou indiferença para com o outro é eticamente condenável porque provoca o afastamento, a quebra de uma aliança fraternal, de um diálogo mútuo e construtivo em busca de consensos mínimos.
Em suma, o mundo de hoje vive uma crise de valores. E o caminho que estamos a trilhar nos levará à fragmentação das sociedades, aos excessos de um agir que não se funda em consensos mínimos sobre o que de fato importa para a preservação da vida e das relações sociais. É preciso (re)construir os pilares que fundamentam a ordem de valores mínimos, daqueles valores que resguardam a existência humana e o seu anseio de mínimo de dignidade. A (re)construção de um discurso minimamente ético pressupõe um agir que se projeta no outro, que, sem perder a razão, vai buscar no amor e na fraternidade o tempero das relações sociais. O eu que se preocupa e se projeta no outro é o eu que cuida e se responsabiliza. E em se tratando de atores públicos, munidos que são de parcela do poder das Instituições democráticas, mais que uma responsabilidade é um dever. Dever de não fugir do debate, do diálogo, da construção e reconstrução de novas alternativas que proponham soluções às crises. Aquele que se propõe a ter uma atitude ética é o mesmo que interage com o outro; e que, buscando o ponto de vista do outro, melhores condições terá de manter o diálogo e a construção permante de consensos mínimos sobre o ser e o não ser ético.

Wellington Magalhães é Juiz de Direito Substituto do Estado do Tocantins

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