Por Celso Alonso - Agência Satélite
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou claro nesta quarta-feira (17/9) que sua maior preocupação no Congresso não é apenas a redução de penas aos envolvidos no 8 de Janeiro, mas, sobretudo, evitar que Jair Bolsonaro (PL) seja beneficiado por uma anistia ampla. Durante almoço com a bancada do PDT no Palácio da Alvorada, Lula pediu votos contrários a qualquer proposta que inclua o ex-presidente, deixando evidente sua irritação com o avanço da oposição.
De acordo com relatos, Lula se mostrou contrariado com a movimentação no Legislativo que pode acelerar a votação da urgência da anistia, pressionada pelo PL e partidos aliados. A aprovação desse requerimento permitiria que o texto fosse levado diretamente ao plenário, sem passar pelas comissões, abrindo caminho para que Bolsonaro seja incluído.
O Planalto teme que a proposta defendida pela oposição — uma anistia geral, irrestrita e que contemple também Bolsonaro — ganhe força e acabe se tornando realidade. O próprio presidente reconheceu, em conversa reservada, que esse seria um duro golpe em sua estratégia política, já que parte da narrativa do governo está baseada na condenação do ex-presidente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão foi celebrada pela base governista como uma vitória contra o que chamam de “ameaças à democracia”. No entanto, a simples possibilidade de que o Congresso reverta essa pena com um ato de anistia causa apreensão dentro do governo.
Apesar do discurso duro de Lula, nem todos na esquerda seguem a mesma linha. Uma ala da base governista admite discutir uma “anistia parcial”, que reduziria penas ou beneficiaria apenas os manifestantes de menor participação nos atos de 8 de janeiro, excluindo os líderes políticos. Essa divisão, porém, preocupa o Planalto, já que abre brecha para a oposição ampliar a pressão.
Do outro lado, a oposição comemora o enfraquecimento da estratégia de Lula. Líderes do PL e de outros partidos do Centrão articulam uma ofensiva para aprovar uma anistia que inclua Bolsonaro, entendida como uma forma de corrigir o que classificam como “perseguição política” conduzida pelo STF.
A ameaça de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de “parar o Senado” caso Davi Alcolumbre não coloque o texto em votação, aumentou ainda mais a tensão no Palácio do Planalto.
Para Lula, a aprovação da anistia ampla significaria muito mais do que uma derrota legislativa: seria a chance de Bolsonaro retomar o fôlego político, reorganizar sua base e até projetar um novo ciclo eleitoral. O temor do petista é que, com o perdão aprovado, a narrativa da condenação se esvazie e fortaleça justamente aquele que ele mais deseja afastar do cenário político.
Assim, enquanto o Congresso debate qual formato de anistia prevalecerá, Lula se mostra cada vez mais impaciente. Sua ira contra Bolsonaro parece ser proporcional ao medo de que, mais uma vez, o ex-presidente consiga transformar uma adversidade em combustível político.