Na noite que deveria ser apenas mais um retorno para casa, a jovem refugiada ucraniana Iryna Zarutska, de 23 anos, teve sua vida interrompida de forma brutal dentro de um trem da Linha Azul, em Charlotte, Carolina do Norte. O crime, que chocou a comunidade local, revelou não apenas a dor de uma família que fugia da guerra para buscar segurança, mas também as falhas de um sistema que não conseguiu oferecer tratamento adequado a um homem com longo histórico criminal e de problemas de saúde mental.
Zarutska havia acabado de embarcar na estação Scaleybark, poucos quilômetros do centro da cidade. Vestida com o uniforme da pizzaria onde trabalhava, sentou-se sozinha, entretida no celular. A poucos assentos de distância estava Decarlos Brown, 36 anos, vestindo um moletom vermelho. Minutos depois, Brown sacou uma faca, inclinou-se por cima do banco e desferiu o golpe fatal contra a jovem, que caiu no chão enquanto passageiros chocados não sabiam o que fazer e permaneciam atônitos diante da cena.
Zarutska não resistiu aos ferimentos. Brown foi preso e acusado de homicídio em primeiro grau.
Iryna Zarustka, refugiada ucraniana morta em metrô nos EUA • @lucaveros225 no instagram
“Ela sobreviveu a bombardeios diários na Ucrânia e fugiu para ter uma vida em paz. Encontrou a violência aqui, onde acreditava estar segura”, lamentou um amigo da família.
Enquanto a tragédia de Zarutska ganhava manchetes, familiares de Brown relataram anos de tentativas frustradas de buscar ajuda para ele. Diagnosticado com esquizofrenia, sofria de alucinações e paranoia, acreditando até que o governo havia implantado um chip em seu corpo.
Com passagens por assalto à mão armada, invasão de domicílio e furto, Brown havia cumprido mais de cinco anos de prisão. Após a soltura, sua mãe e irmã notaram mudanças drásticas em seu comportamento: dificuldade de manter conversas, surtos de agressividade e incapacidade de sustentar empregos.
A mãe tentou interná-lo em uma instituição de longa permanência, mas esbarrou em entraves legais por não ter sua tutela. Pouco tempo antes do ataque, Brown chegou a ser preso por uso indevido do 911, ao ligar para relatar teorias delirantes. Foi solto sob a promessa de comparecer em audiência.
“Ele estava lutando contra algo que não conseguíamos controlar. Naquela noite, acho que ele simplesmente quebrou”, afirmou sua irmã, Tracey.
O crime rapidamente ganhou contornos políticos. O então presidente Donald Trump classificou Brown como “criminoso de carreira” e usou o caso como exemplo da violência urbana em cidades governadas por democratas. Em postagem no Truth Social, defendeu mais “lei e ordem” e justificou o envio de tropas federais a grandes centros urbanos.
Por outro lado, a prefeita de Charlotte, Vi Lyles, e familiares do acusado ressaltaram que o episódio também revela falhas profundas do sistema judicial e de saúde mental norte-americano, que não conseguiu oferecer suporte a Brown mesmo diante de seu histórico de surtos e violência.
O encontro entre Zarutska e Brown, em um trem de Charlotte, expôs uma colisão trágica de histórias: a de uma jovem que fugiu da guerra para sonhar em paz e a de um homem que, sem apoio adequado, mergulhou em um colapso mental que terminou em assassinato.
“É repugnante e triste que alguém que buscava segurança tenha perdido a vida assim. Isso mostra quanta maldade e falhas ainda existem em nossa sociedade”, disse Lonnie, amigo da família da vítima.
A morte de Iryna Zarutska, lembrada por seu sorriso e paixão pela vida, agora se torna símbolo de debates sobre segurança, saúde mental e responsabilidade das instituições diante de vidas que poderiam ter sido salvas.
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