Moradores de Santa Maria relacionam insegurança
à impunidade de jovens. Eles reclamam ainda da falta de policiamento e de
investimento na região. Área conhecida por 'Faixa de Gaza' e condomínio Porto
Rico são locais mais 'críticos'.
Apesar de reclamarem sobre a falta de
policiamento, moradores de Santa Maria, no Distrito Federal,
afirmaram considerar que a sensação de insegurança na região
administrativa é reforçada principalmente pela impunidade de adolescentes que
cometem atos infracionais. Eles apontam duas áreas como as mais críticas na
região: as quadras conhecidas por "Faixa de Gaza" e o condomínio
Porto Rico se destacam pela violência.
O vigilante Marcos Alencar, de 40 anos, disse
que mora há 14 anos em Santa Maria e nunca foi assaltado, mas diz que já
presenciou uma tentativa de assalto. Ele disse acreditar que se os jovens
tivessem ocupação e saíssem das ruas, os índices de criminalidade diminuiriam.
Uma comerciante que não quis se identificar
contou que muitos crimes que ocorrem em Santa Maria são cometidos por jovens
moradores, principalmente, afim de angariar recursos para a compra de
entorpecentes. Ela afirma que os adolescentes não se sentem intimidados com a
presença da polícia e nem com câmeras de segurança instaladas no comércio. “A
polícia passa, mas não adianta. Eles não têm medo de polícia. São apreendidos e
dois dias depois estão soltos”, disse a comerciante. “A gente sabe quem é, onde
mora, mas vamos fazer o quê? Se a gente denuncia, eles são soltos e depois vêm
atrás da gente”, disse.
A comerciante afirmou que o local onde trabalha
foi assaltado duas vezes em janeiro deste ano. Até então, a loja, que está
instalada há quatro anos na região, nunca havia sido assaltada. Ela considera
que o efetivo da polícia é insuficiente para combater a criminalidade em Santa
Maria.
Moradores contam que entre as quadras 204 e 206
de Santa Maria, há duas gangues inimigas formadas principalmente por
adolescentes. A área é marcada por tiroteios quase diários e, por essa razão,
ficou conhecida como "Faixa de Gaza", segundo os moradores.
“Aqui
[na Faixa de Gaza] nem tem muito assalto, só de vez em quando, mas a gente não
aguenta mais tiroteio”, afirmou uma moradora. “Teve um réveillon que eu tive que
me esconder embaixo da cama para não ser atingida por bala. É tiro demais, toda
hora, principalmente à noite”.
O estudante Luan Silva, de 23 anos, disse que a
falta na região administrativa é investimento do governo. “Falta investir na
população e dar empregos, além de regularizar a área”, disse. “As pessoas não
conseguem fazer renda aqui em Santa
Maria e os meninos se perdem porque não tem emprego, não
tem o que fazer”.
O estudante considera que a área de lazer em
Santa Maria é boa. “Área para praticar esporte não falta. Tem ciclovia,
quadras, muitos comércios, mas o governo tem que fazer alguma política para
ocupar os jovens”.
Segundo o comandante do 26º BPM, tenente-coronel
Raimundo Nonato Cavalcante, afirma que o efetivo é ideal para atender a
demanda. Todavia, a falta de punição aos infratores, principalmente no caso dos
menores é que compromete a segurança na cidade.
“A tropa é bastante comprometida. Estamos
baixando o índice de criminalidade, com exceção do homicídio que é difícil de
ser combatido, por conta de acerto de contas, por causa de drogas, brigas entre
gangues”, disse Cavalcante. “Para diminuir mais esses índices vamos agir em
conjunto com o Conselho de Segurança Comunitário, para a gente conseguir fazer
a segurança da cidade como ela precisa e merece”.
Cavalcante considera que a lei “é branda com
relação aos adolescentes”. “A gente apreende e por diversas vezes a criança sai
antes mesmo que o policiamento termine de preencher os documentos na
delegacia”, afirmou. “É uma questão que não depende dos órgãos de segurança em
si, mas isso não vai nos desmotivar. Vamos solicitar aos órgãos de ação social
para que atendam as crianças”.
Condomínio Porto Rico
Com aproximadamente 18 mil moradores, o
condomínio Porto Rico fica a aproximadamente 4 km do 26º Batalhão da Polícia
Militar. A região tem altos índices de violência, principalmente assaltos
e homicídios, além de infraestrutura precária. Moradores do Porto Rico afirmam
que o local serve de ponto de tráfico e de esconderijo para pessoas que cometem
crimes no Entorno do Distrito Federal.
Uma moradora, que não quis se identificar,
afirmou que, em sete anos residindo no local, já foi alvo três vezes de
criminosos moradores da própria região. Ela contou que foi assaltada duas vezes
e que já tentaram até estuprá-la. “Em 2012 fui assaltada em frente ao posto da
polícia, que ainda estava funcionando. Um adolescente armado pediu minhas
coisas. Ele levou tudo, celular, bolsa, tudo", afirmou.
"Como ele estava armado, entreguei as
coisas e esperei. Depois saí correndo para o posto policial. Quando cheguei lá
havia três policiais: um dormindo no carro pessoal, um em uma viatura e outro
dentro do posto. Eles saíram para procurar o jovem, mas foram na direção
contrária à que ele tinha fugido. Acho que eles só quiseram mostrar que
tentaram fazer alguma coisa."
Uma funcionária de uma padaria localizada na
área central do Porto Rico afirmou que o comércio foi assaltado várias vezes em
cinco anos. Cansados de não conseguirem identificar os suspeitos dos crimes, os
donos da padaria resolveram instalar cinco câmeras no ano passado. “Muito
grande a violência aqui, está insuportável trabalhar”, afirmou a funcionária.
“Com as câmeras a gente consegue ver o que está acontecendo. Dá uma sensação de
controle quando a gente consegue monitorar, apesar que hoje em dia eles não
estão mais nem aí”.
Sobre o condomínio Porto Rico, o comandante do
26º BPM afirmou que a corporação está ciente do que vem ocorrendo na região,
mas que está se inteirando da situação para realizar alguma operação. “Tomamos
pé da situação, fazemos o policiamento diariamente, temos que ver os processos
que vamos tomar aumentando o efetivo ou identificando os criminosos”, afirmou o
tenente-coronel Nonato. “Temos operações previstas com acréscimo de efetivo em
vários pontos do Porto Rico”.
O administrador de Santa Maria, Neri do Brasil,
acredita que a violência está ligada principalmente às drogas. “A questão das
drogas é uma coisa muito séria. Se você pegar os crimes que acontecem, 98% têm
relação com drogas”, afirmou. “A gente precisa fazer um trabalho voltado para a
área social. Vamos inserir esses meninos no trabalho, tirar das ruas, arrumar
atividade, a gente vai trabalhar muito a questão do esporte e a questão
cultural para tentar minimizar um pouco os índices”.
Ele afirmou que pretende realizar projetos
sociais em conjunto com a comunidade. “Esses meninos não nascem bandidos, eles
viram. Então não é colocar polícia na rua. O problema não é só esse, é muito
maior. Tem a questão de iluminação, a própria questão da estrutura da cidade,
precisa envolver todos os setores”, disse.
Nery conclui da necessidade da parceria da
comunidade jos projetos que visam a segurança na cidade. “A ideia do projeto é
trabalhar junto com a comunidade, trabalhar junto com as igrejas. Não dá para a
administração trabalhar sozinha. Vamos fazer uma parceria com o comércio para
gerar mais emprego, colocar esses meninos como menor aprendiz, fazer alguma
coisa para arrumar uma atividade para eles não terem necessidade de entrar no
crime”.
Fonte - G1 com adaptações
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