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Perto da liberdade, Maníaco do Parque afirma ser um "novo homem" e planeja mudar de nome: "Aquele Francisco não existe mais"

Condenado por uma série de assassinatos brutais, Francisco de Assis Pereira deverá deixar a prisão em 2028, após cumprir o tempo máximo permitido pela legislação da época

*com informações Ullisses Campbell — São Paulo

O Maníaco do Parque em três momentos: quando foi preso; durante o período na cadeia; e em registro mais recente, do ano passado

Condenado a 280 anos de prisão pelo assassinato de nove mulheres, Francisco de Assis Pereira — conhecido nacionalmente como o Maníaco do Parque — afirma estar pronto para recomeçar. Ele planeja mudar de nome assim que deixar a prisão, prevista para 2028, quando completa 30 anos encarcerado, limite máximo permitido por lei à época de sua condenação.

— Sou um novo homem. Aquele Francisco não existe mais — disse ele em entrevista inédita à psicóloga forense luso-brasileira Simone Lopes Bravo, realizada dentro da Penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo.

Apesar da magnitude dos crimes, Pereira deixará o sistema prisional sem passar por exame criminológico, já que não haverá progressão de regime. Isso significa que não será avaliado formalmente quanto ao risco de reincidência.

Atualmente, Francisco divide a cela 59 do Pavilhão 3 com outros seis detentos condenados por estupro. Durante a entrevista, concedida em 2024, ele voltou a descrever detalhes dos assassinatos cometidos na década de 1990. Confessou, por exemplo, que retornava às cenas dos crimes para se masturbar diante dos corpos.

— Aqueles pensamentos me excitavam. Eu não conseguia parar de pensar — relatou.

Segundo ele, as vítimas eram abordadas no Parque Ibirapuera, em São Paulo, com promessas falsas de carreira como modelos. Pelo menos nove mulheres foram mortas com sinais de violência sexual. Outras, afirma, foram poupadas:

— Às vezes, mesmo dentro da mata, decidia não fazer nada. Levava de volta ao ponto de ônibus e dizia para ela tomar cuidado — disse, alegando que, nesses casos, não havia qualquer contato físico: — Nem um beijo.

Francisco também revelou que seus impulsos sexuais começaram na infância, após contato precoce com revistas pornográficas no local de trabalho do avô. Na adolescência, relata, teve muitas relações sexuais enquanto patinava em São José do Rio Preto (SP), onde nasceu:

— Meus pensamentos eram mais fortes que eu. Não conseguia controlar.

Ao ser questionado por que as vítimas eram exclusivamente mulheres, foi direto:

— Porque eu me sentia atraído pelo corpo das mulheres.


Conversão religiosa e rotina na prisão

Francisco afirma ter passado por uma transformação espiritual após se converter ao evangelismo, em 1999, quando foi batizado na Penitenciária de Itaí. Desde então, diz que os pensamentos violentos e desviantes desapareceram.

— Nunca mais voltaram. Vivo em constante oração. Até quando caminho, estou meditando na palavra.

Mesmo assim, se recusa a pedir perdão às famílias das vítimas:

— Deus já me perdoou.

Disse, porém, estar disposto a conversar com os familiares, embora sua mensagem se limite a uma frase:

— A conversão é o único caminho.


A psicóloga e o livro

A entrevistadora, Simone Lopes Bravo, iniciou contato com Francisco por carta, com o objetivo de escrever um livro. Enviou correspondências a diversos criminosos, mas apenas o Maníaco do Parque respondeu. Vivendo em Portugal, Simone contratou uma advogada no Brasil e conseguiu autorização para visitá-lo regularmente, sendo registrada como “amiga” em seu prontuário — condição necessária quando o preso não possui familiares ativos no rol de visitas.

Segundo relato da mãe de Francisco, Maria Helena Pereira, a psicóloga teria pago para que ela abrisse mão da vaga na lista de visitantes. Maria Helena admitiu ter aceitado a proposta por necessidade financeira.

Desse relacionamento surgiu o livro “Maníaco do Parque — A loucura lúcida” (Editora Bretas), no qual Simone relata detalhes das conversas com o detento ao longo de meses.


Declínio físico

No recadastramento interno da penitenciária em 2024, Francisco foi fotografado com visível sobrepeso. De acordo com um médico da unidade, ele pesa cerca de 120 quilos e perdeu todos os dentes devido a uma condição genética rara chamada amelogênese imperfeita, que compromete a formação do esmalte dentário.


Trechos da entrevista

Quem é o Francisco de hoje?
Transformado de dentro para fora.

E o de antes?
Um homem com medo dos próprios pensamentos.

Você queria ter relacionamentos?
Sim, queria casar, ter filhos. Mas não conseguia manter uma relação.

Por quê?
Não sei explicar. Pensava em matar, mas desistia. Algo me segurava.

Você se parece mais com seu pai ou com sua mãe?
Com meu pai. Sempre fui calado, tímido. Tinha vergonha até de fazer perguntas na escola.

Foi uma criança saudável?
Tive muitas infecções urinárias. Tinha excesso de pele no pênis. Isso me causava dor e me atrapalhava.

Atrapalhava de que forma?
Dificultava minha vida sexual. Doía muito.

E hoje, como é sua rotina?
Passo os dias em oração, meditando na palavra. Já trabalhei aqui dentro, hoje faço artesanato.

Você foi batizado?
Sim, em 1999, por evangélicos.

Se tivesse filhos, o que diria a eles?
Que sigam a palavra de Deus. Não a religião, mas a palavra do Deus de Abraão.

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