Por Celso Alonso
05 de novembro de 2025
BRASÍLIA - A discussão em torno da possibilidade de Jair Bolsonaro cumprir pena em regime fechado reacendeu o debate político sobre o impacto que o episódio pode causar na popularidade do governo Lula e na temperatura das ruas.
Após meses de embates entre aliados do ex-presidente e o Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão sobre onde Bolsonaro cumprirá pena — se em um presídio comum, como a Papuda, ou em prisão domiciliar — passou a ser observada com atenção por todo o cenário político.
Entre integrantes do PL e de partidos de oposição, há uma leitura de que uma eventual detenção do ex-presidente em uma unidade prisional convencional poderia gerar forte comoção entre seus apoiadores. A avaliação é que o gesto teria potencial para reacender a narrativa de “vitimização política” e mobilizar a base popular que ainda demonstra fidelidade ao ex-chefe do Executivo.
Já interlocutores próximos ao governo Lula observam o tema com cautela. Embora considerem que o cumprimento da pena seja resultado do devido processo legal, integrantes do Planalto reconhecem que o episódio, dependendo da forma como ocorrer, pode alterar o clima político e provocar reações que impactem a agenda de estabilidade que o governo tenta consolidar.
O governo do Distrito Federal enviou ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, um pedido para que Bolsonaro seja submetido a avaliação médica antes de eventual transferência a um presídio. O documento busca atestar as condições clínicas do ex-presidente, apontando que sua saúde deve ser considerada antes de qualquer decisão.
Analistas políticos avaliam que, até o momento, as medidas judiciais contra Bolsonaro — como a proibição do uso das redes sociais e a prisão domiciliar — foram aplicadas de maneira gradual, o que pode ter contribuído para reduzir o ímpeto de manifestações em massa.
Ainda assim, o caso segue como um dos mais sensíveis do atual cenário político. A forma como a Justiça conduzirá o cumprimento da pena e como o governo federal reagirá à repercussão pública serão fatores determinantes para medir os efeitos desse novo capítulo na relação entre o bolsonarismo, o STF e o Palácio do Planalto.
Análise: polarização e riscos de desgaste político
Especialistas em ciência política avaliam que a eventual prisão em regime fechado de Jair Bolsonaro pode ter impacto simbólico relevante e reacender a polarização política. Para o professor Carlos Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), o episódio tende a dividir a opinião pública:
“Se Bolsonaro for levado a um presídio comum, parte da população poderá enxergar isso como um gesto de excessiva rigidez. Isso alimenta a percepção de perseguição política entre seus apoiadores mais fiéis”, afirma o analista.
Por outro lado, a cientista política Mariana Figueiredo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que o governo Lula precisa atuar com prudência para não ser visto como parte interessada no processo:
“A melhor estratégia para o Planalto é manter distância institucional, reforçando que o caso está sob responsabilidade do Judiciário. Qualquer sinal de interferência política pode gerar desgaste e reforçar o discurso de parcialidade”, pontua.
Na avaliação dos especialistas, o desfecho da questão será um teste para as instituições brasileiras. Tanto o Supremo quanto o governo federal precisarão equilibrar a aplicação da lei com a necessidade de preservar a estabilidade democrática e evitar novos focos de radicalização.
