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Em meio a crises nos EUA, aumentam críticas a Donald Trump dentro do Partido Republicano

Maneira como presidente enfrenta protestos e a pandemia começa a impactar na campanha à reeleição, mas muitos governistas mantêm silêncio para não serem alvos

Donald Trump embarca no avião presidencial em Bangor, no estado do Maine, no dia 5 de junho Foto: NICHOLAS KAMM / AFP

Com índices de popularidade em queda e cada vez mais questionado sobre suas ações para enfrentar os dois maiores desafios dos EUA em muitos anos, a pandemia do novo coronavírus e os protestos contra o racismo, o presidente Donald Trump começa se preocupar com os impactos desse momento dramático na sua campanha de reeleição.

Além da óbvia rejeição entre os democratas e uma crescente aversão ao seu nome entre os eleitores que se declaram independentes, aumenta o número de vozes contrárias a dar mais quatro anos a Trump dentro do próprio Partido Republicano.

O presidente ainda possui um grande apoio entre os eleitores da sigla, em torno de 90%, segundo números do instituto Gallup, mas nem isso tem impedido que nomes de destaque no partido expressem publicamente que não devem votar nele em novembro.

O caso mais emblemático talvez seja o da família Bush, uma das mais influentes não apenas no Partido Republicano, mas na vida política recente do país. Jeb, o ex-governador da Flórida que concorreu nas primárias presidenciais de 2016 — quando foi alvo direto de ataques do hoje morador da Casa Branca — diz hoje que não sabe como votará em novembro, segundo pessoas próximas ouvidas pelo New York Times. O ex-presidente George W. Bush já declarou que não apoia a reeleição, e sinalizou que pode repetir seu gesto de 2016, quando não votou nem em Trump nem na democrata Hillary Clinton.

Outro a ir neste caminho é o senador Mitt Romney, conhecido desafeto do presidente. Ele deu sinais de que não apoiará Trump em novembro, mas sem declarar em quem votará. No julgamento do impeachment do republicano, finalizado em fevereiro, Romney foi o único governista a votar pela condenação por abuso de poder. Neste domingo, ele marchou com manifestantes durante um protesto em Washington.

O ex-secretário de Estado de George W. Bush, Colin Powell, foi além: neste domingo, anunciou em entrevista para a CNN que não apenas era contra a recondução de Trump mas que apoiaria a candidatura do democrata Joe Biden.

— Temos uma Constituição. E temos que seguir essa Constituição. E o presidente se afastou dela — afirmou à CNN, em uma entrevista marcada por críticas a Trump

Dissidência silenciosa

Apoiadores de Donald Trump, contudo, rejeitam a ideia de que essas dissidências dentro do Partido Republicano possam atrapalhar a reeleição. Eles citam os altos números de aprovação entre os eleitores declaradamente republicanos e acreditam que a retomada da campanha presencial lhes dará novo fôlego nas pesquisas. Além disso, recordam que boa parte dos “dissidentes” apenas seguem a mesma linha da eleição de 2016. Colin Powell, por exemplo, votou em Hillary Clinton. O ex-presidente George H.W. Bush, falecido em 2018, também teria escolhido a democrata, algo que jamais foi confirmado por ele.

Mesmo assim, reconhecem, longe das câmeras e gravadores dos repórteres, que cada vez mais nomes de destaque do partido que apoiaram Trump em 2016 tentam se afastar dele. Os ex-presidentes da Câmara, John Boehner e Paul Ryan, são dois exemplos desse processo. Os dois votaram nele, apesar de graves divergências na época, especialmente no caso de Ryan, mas esse ano evitam explicitar seu apoio. Isso não significa necessariamente que ambos estarão ao lado de Joe Biden — podem escolher, por exemplo, um chamado “candidato de um terceiro partido”, ou seja, alguém que não seja nem democrata nem republicano. Ou, em último caso, permanecerem neutros.

Um dos fatores que vem impulsionando esse movimento é a forma como o presidente está enfrentando os protestos contra o racismo, desencadeados pelo assassinato de George Floyd, negro, por um policial branco em Minneapolis, no final de maio. Trump defende uma repressão dura aos manifestantes, e chegou a usar bombas contra ativistas pacíficos em Washington para abrir caminho para visitar uma igreja próxima à Casa Branca.

Essa estratégia criou cisões até mesmo nas Forças Armadas, uma instituição vista como “apolítica”, mas que vem se levantando contra as ações do presidente. Na quarta-feira passada, o secretário de Defesa, Mark Esper, rejeitou a ideia de mandar soldados para conter os protestos, como queria Trump. Seu antecessor no cargo, o general Jim Mattis, foi além e acusou o presidente de “abuso de autoridade”.

“Donald Trump é o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano, nem mesmo finge. Em vez disso, tenta nos dividir”, afirmou Mattis, em entrevista à revista The Atlantic, se dizendo ainda “consternado” com o estado atual do país. A visão é compartilhada também por muitos militares da ativa, que evitam fazer tais comentários em público.

No Congresso, as críticas a Trump por conta da repressão se intensificaram, passando a vir também do campo republicano. A senadora Susan Collins afirmou que os manifestantes possuem o direito fundamental de protestar, e disse “ser contra dispersar um protesto pacífico para uma foto que trata a palavra de Deus como propaganda política”, se referindo à visita de Trump à igreja episcopal de São João, na segunda-feira passada.

Na mesma linha, a senadora Lisa Murkowski disse que o país “chegou ao ponto em que podemos ser mais honestos com as preocupações internas e ter a coragem de levantar a voz”.

Impactos eleitorais

Contudo, a resposta de Trump a Murkoswki dá a maior pista sobre os motivos para tão poucos republicanos criticarem publicamente o presidente, mesmo discordando de forma crucial dele.

Em uma série de postagens no Twitter, disse que já sabe onde estará daqui a dois anos: fazendo campanha contra a reeleição de Murkowski ao Senado.

“Arrumem qualquer candidato, bom ou mau, não ligo. Vou apoiar. Se tem pulso firme, estarei com você”, publicou o presidente.

Vale lembrar que todas as cadeiras da Câmara e 35 assentos no Senado estarão em disputa em novembro, e ter Trump como inimigo, especialmente em áreas historicamente republicanas, não é um preço que todos governistas que discordam do presidente querem pagar.

Essa é uma preocupação que não atinge o deputado republicano Francis Rooney, que não tentará a reeleição em novembro. Em entrevista ao New York Times, diz que há décadas não vota em um candidato democrata, mas que, agora, apoiará Joe Biden. Segundo ele, Trump “está enlouquecendo a todos”.

— Muitas pessoas votaram em Trump porque não gostavam de Hillary Clinton. Não vejo isso acontecendo com Joe Biden. Como não gostar de Joe Biden? — concluiu.


Fonte - O Globo, com New York Times e El País
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